A Educação Perdida em seu processo - Solange Galeano
Os tempos conturbados em que vivemos trazem à baila o acirramento dos ânimos no qual a confiança é cargo vago, a criativade e a inovação pediram exoneração e o chefe da repartição, cheio de falhas, num movimento de reação ao temor à falta do poder total, só não fez repartir.
A educação, no métier que lhe é próprio, atropela a ética, pateticamente posta de lado por interesses escusos, e, claro, nega seis vezes qualquer abertura, fagulhas de evolução, ou indice minimo de inovação. Criatividade é perigoso; ser criativo é quase uma heresia. Perde-se qualquer possibilidade de crescimento, pois quem deveria ser exemplo e mediar um caminho mais claro, mais nobre na ascensão moral e intelectual humana, perdeu-se no seu próprio caminho e ocupou-se de suas mesquinhas mazelas e interesses.
Restou um educar deseducando; um destruir sem intenção de edificar. Faltou a leveza das palavras, a insenção dos pesados julgamentos e o esforço em, de fato, auxiliar. Em contrapartida, quem esperou encontrar auxílio se viu exilado na ilha dos maus exemplos, reprodução fidedigna da realidade social que se dizia na intenção de modificar.
O espaço da esperança em um mundo melhor aliou-se ao globalizado insensível mundo das ínfimas parcelas dominantes, detentoras do capital essencial. Virou mais um reduto no qual são reproduzidos modelos, quase iguais, de um (des)humano alienado e alienante.
O século XXI chegou e caminhou já por mais de uma década. No entanto, a maquiagem renovou o antigo rosto do sistema deseducacional. Velho corpo em roupa quase nova. Um fazer defasado, mascarado de novo e repleto de intenções vazias de inovações que pretendam um real desenvolvimento integral. Tudo o mesmo com nomes renovados. Tinta nova em parede velha e cheia de umidade. Palavras encharcadas de sentido e secas de ação. Meros representantes do desprocesso de um sistema ultrapassado, retalhado e ratalhante que age às avessas, soterrando a ferramenta mais nobre de qualquer mudança social.
Assim caminhamos e sobrevivemos no descaramento político do descompromisso social. Calamos diante dos que abdicam do bem comum e agem em causa própria. Há quem lute, grite e tente espalhar as sementes no velho solo, na esperança de vê-las brotar em médio prazo. Entretanto, mesmo esses acabam sucumbidos pelos demais e pelas próprias necessidades suplantadas e exploradas pelos reprodutores capitalistas que impedem a valorização e o reconhecimento dos que trabalham verdadeiramente interessados no bem comum. Afinal, o novo assusta e nos põe à prova; o ético não encontra lugar na sociedade corrupta do caos e, além de tudo, acende-se o luminoso onde se pode ler: ideologia não paga as contas num final de mês; assim, "manda quem pode e obedece quem tem juízo".