A IGNORÂNCIA NOSSA DE CADA DIA E A POSSIBILIDADE COTIDIANA DA LUZ NA CONSCIÊNCIA - Carlos Parada

11/11/2013 14:00

Nestes dias tenho pensado muito a respeito do que temos perdido, em nossa Vida, por causa de nossa ignorância espiritual. Somos, nós brasileiros, considerados um povo religioso. Mas, em que medida, esta nossa religiosidade consegue ir além dos primeiros passos dados na infância? É inegável que temos, também, alguma cultura religiosa, mas daí nos iludirmos que temos maturidade espiritual é uma coisa um tanto distinta. A meu ver este é um dos desafios centrais para os educadores contemporâneos: como tratar a questão básica, urgente, aquela que nos dá a nossa razão de ser: nossa Natureza Espiritual?

Creio ser este o grande dilema, a grande possibilidade: o resgate da consciência da nossa Natureza Espiritual. Esta abertura da mente nos leva, necessariamente, à busca do autoconhecimento. Sendo o autoconhecimento o Caminho apontado pelos místicos e místicas de todos os Tempos e Tradições a possibilitar o Encontro com O Sagrado que a todos nós habita, somos -inevitavelmente- chamados a um mergulho profundo nas profundezas do nosso Ser. Trabalho árduo, sofrido, diário, gratificante. Caminho ao qual nenhum de nós poderá escapar, sob pena de ficarmos, cíclica e teimosamente, cometendo os mesmos erros, colhendo os mesmos sofrimentos. E neste olhar para dentro, identificando O Sagrado em Si, como afirma Yogananda, poderemos encontrar O Ser Sagrado em todos, absolutamente todos.
O processo de Humanização (objetivo primeiro de toda e qualquer prática verdadeiramente Educativa) possibilita O Encontro com O Outro, pelo reconhecimento da Sacralidade do Humano. Neste permanente exercitar-se, educandos e educadores, somos chamados à humildade de nos reconhecermos aprendizes, irmãos na Busca de Si. E isso tanto na Matemática quanto na Língua Portuguesa, na História, na Geografia, em todas as Áreas do Conhecimento. Sim, porque sempre haverá a possibilidade de trazermos as temáticas do cotidiano, nossas questões existenciais, para dialogarem com estas linguagens específicas. A Arte consiste justamente em buscar e construir estas possibilidades. Tudo, absolutamente tudo, pode servir como lição para nossa Vida. Precisamos querer, desejar intensamente, perceber nas entrelinhas, nos sinais, nos silêncios, estas possibilidades de aprendizado de Si. Mas, antes de tudo, necessitamos coragem para abandonar velhas idéias e conceitos que não nos servem absolutamente para mais nada, padrões que apenas nos escravizam e nos encerram em nossa própria cegueira. Outro dia, em sala de aula, ocorreu-me o quanto nossa perspectiva materialista da existência (muitas vezes travestida em discursos e práticas religiosas) nos empobrece. Conversava com os estudantes quando me veio à mente as imagens do Imaculado Coração de Maria e do Sagrado Coração de Jesus. Eu, que não sou Católico, fiquei muito à vontade para falar a meus alunos (muitos deles evangélicos) a respeito do belíssimo significado destas imagens (não falo aqui de imagens de gesso ou madeira, mas de símbolos imagéticos). O Imaculado Coração de Maria, O Sagrado Feminino que nos habita. O Sagrado Coração de Jesus, o Sagrado Masculino que nos habita. Num a doçura, a acolhida, a aceitação incondicional. No Outro a força, o entusiasmo, a chama que arde, para seguir adiante efetuando em nosso Mundo Interior (e assim no próprio Mundo Exterior) as necessárias transformações que nos possibilitem O Encontro com a nossa Essência. A mesma Força Sagrada em suas polaridades complementares (a exemplo dos ensinamentos junguianos). Duas dimensões da mesma Força Criadora: Deus-Mãe. O quanto perdemos por causa de nossos preconceitos e orgulho religiosos. A mesma cegueira que nos impede de identificar O Sagrado na "Vida Profana"; O Sagrado presente no Outro. Ainda, espiritualmente infantis, nos prendemos às aparências, aos pobres e empobrecedores conceitos e categorias teológicas. Ainda não conseguimos perceber que A Força Criadora (a Quem muitos preferem chamar Deus) se manifesta das mais diversas formas, aparências, nomes: Jesus, Khrisna, Iemanjá, Virgem Maria, Mãe Divina e tantos outros. Sim, O Espírito sopra onde e como quer. Tendo lugar no coração poderemos recebê-lo. Possa nossa Belíssima e Sagrada Missão de Educadores se converter, a cada dia, neste espaço de conhecimento, gestação de fraternidades, renovação de mentes e libertação dos corações.
Fraternal e amorosamente,