NEUROCIÊNCIA E ESPIRITUALIDADE

07/08/2011 14:42

  Instituto do Cérebro de Campinas (SP)
entrevista com o Prof.Dr. Nubor Orlando Facure

Espírita desde criança, o Dr. nubor Orlando Facure é médico, especialista em neurologia, diretor do Instituto do Cérebro de Campinas, e ex-professor titular de neurocirurgia da UNICAMP, pesquisador, escritor e expositor espírita.

O Dr. Nubor desenvolve estudos pioneiros aliando a medicina aos conhecimentos espíritas e tem colhido resultados maravilhos com este trabalho.

A equipe da Terra Espiritual teve oportunidade de entrevistá-lo e abaixo transcreve o teor da conversa.

TE - Como o senhor descobriu o Espiritismo?
NOF - Nasci em Uberaba numa família católica em 1940 e logo aos 7 anos de idade nossa mãe nos encaminhou a todos para a Doutrina Espírita. Permitiu-nos, assim, a misericórdia divina, que fizéssemos companhia aos mais destacados pioneiros espíritas da nossa querida Uberaba.
Freqüentei o “Centro Espírita Uberabense” assistindo as aulas de evangelização para crianças e mais tarde as reuniões do “Centro de Estudos” e as “litero-musicais” nas noites de sábado. Convivemos aí com inúmeros companheiros de doutrina e abnegados professores que nos sentimos no dever de reverenciá-los sempre, pelo muito que nos ensinaram. Creio ter sido um projeto carinhoso da espiritualidade o privilégio de ter reunido no mesmo “centro espírita” Dr Inácio Ferreira, “seu” Lilito Chaves, Cleber Novais, Manoel Roberto, Carlos Pepe, Antônio de Paiva, Odilon Fernandes, Elias Barbosa, Weimar de Oliveira, D. Maria Modesto, Euritimia Cravo e Marlene Rossi. Todos eles produziram momentos de história e de esforço pessoal dignos de constar das páginas mais nobres do Espiritismo.
A partir dos anos sessenta a cidade passou a acolher o médium Chico Xavier a quem tivemos o privilégio de conhecer de perto. Meu pai construiu a casinha simples e o “centro” onde Chico e Waldo Vieira foram morar nos permitindo, assim, testemunhar momentos inesquecíveis. Minha mãe, minha irmã e eu iniciamos ali as primeiras aulas de evangelização das crianças do bairro. Ouvi, algumas vezes, o Chico, lendo páginas do evangelho na portas dos casebres pobres que percorríamos na “peregrinação”. Aquela voz particular nos ressoa até hoje nos ouvidos. Ele sempre apontava os céus e pronunciava o nome de Jesus quando alguém em desespero lhe perguntava sobre seus problemas. Acompanhei conversas longas, pela madrugada a fora, na sala de visitas do Chico. Era ele mesmo a fonte inesgotável de casos curiosos que ele tinha vivenciado. Freqüentemente, alguém insistia que deveríamos estar sempre juntos, desfrutando da sua presença, ao que ele ensinava-nos que os moirões da cerca precisam se distanciar para cumprir sua função. Mesmo que ligados por arame farpado a lavoura seria mais bem protegida.

TE - Quando o senhor percebeu que poderia unir os conhecimentos espíritas ao seu trabalho como médico?

NOF - Para mim, a ordem a que você se refere foi o inverso. Fui sempre espírita em primeiro lugar. A Medicina e especialmente a neurologia me serviram de campo de trabalho e, reverencio a Deus a benção de poder atuar nessa área. Trata-se de uma especialidade que me aproximou, muito, do mais íntimo e complexo que existe no ser humano, o cérebro e a mente. Creio que atendi quase duzentos mil pacientes e realizei perto de sete mil cirurgias neurológicas. Meu maior empenho foi incluir a existência do espírito tanto em minhas aulas como professor na UNICAMP, onde lecionei por trinta anos, como no atendimento aos meus pacientes. Orgulho-me de ter instituído na vida acadêmica brasileira, o primeiro curso de pós-graduação – Cérebro/Mente, com enfoque nitidamente espiritualista, que desenvolvemos na Neurologia da UNICAMP nos anos noventa.

TE - Como é possível distinguir o ponto onde termina o campo da medicina e começa o campo espiritual?

NOF - Vejo essa distinção como desnecessária, prejudicial e arbitrária. Nunca fez parte das minhas preocupações e transito por esses dois domínios, sintonizado em total harmonia. Procuro respeitar, sempre, o ponto de vista religioso de todos pacientes. Entretanto, aprendi, com minha experiência pessoal, que, haverá sempre lugar para uma palavra bem colocada, chamando a atenção dos pacientes para considerarem a espiritualidade. É fácil falarmos sobre a existência da Alma, da imortalidade, das Leis divinas de ação e reação, da força da oração, da incorruptível justiça de Deus, da presença de Espíritos que nos acompanham, atraídos por nossa disposição de fazer o bem e o prejuízo de contrariar os princípios de amor ao próximo que de uma forma ou de outra nos farão colher suas conseqüências.

TE - O que falta para que a ciência passe a aceitar as manifestações espirituais?

NOF - O problema não é da Ciência, mas, dos homens que pensam representa-la. Já temos comprovações mais do que suficientes. A argumentação científica que comprova a existência da Alma e suas manifestações fora do cérebro é rotineira em qualquer centro espírita sério.Os casos de reencarnação comprovados e descritos na literatura científica, já se contam aos milhares. As mensagens dos espíritos desencarnados nos trazem detalhes pessoais irrefutáveis. Os fenômenos de expressão física podem ser testemunhados a luz do dia e as “cirurgias espirituais” realizadas em nosso pais desafiam qualquer incrédulo.
Penso, que ainda deve haver um custo moral muito alto, para que o cientista irredutível, possa abdicar da sua presunção arrogante e se entregar às verdades que a espiritualidade nos revela. A mudança de paradigma foi quase sempre traumática na história da humanidade. Muitos foram condenados por admitirem o heliocentrismo, a explosão da estrelas, as órbitas elípticas dos astros, a origem comum para homens e animais inferiores, a evolução das espécies entre tantas outras afirmações que exigiram mudanças de interpretação do mundo. Admitir a espiritualidade exige, porém, um esforço adicional porque tende a incluir a própria mudança interior de cada um de nós. Parece que, mesmo que inconscientemente, nem todos querem assumir esse custo. Ele exige desprendimento que a maioria não que renunciar.
Tanto essa quanto a questão anterior merecem um adendo. Já estão em funcionamento alguns movimentos de nível universitário incluindo a espiritualidade como perspectiva de estudo no meio científico. Essas luzes já se acenderam, ainda que tenuamente, com mais força no exterior do que em nosso pais, que se intitula espiritualista por natureza, onde só recentemente começaram a se esboçar os primeiros passos.

TE - O senhor acredita no crescimento da chamada neuroteologia?

NOF - Associar a fé e a espiritualidade aos mecanismos de atividade dos neurônios é uma visão acanhada de um processo complexo de atuação mente/cérebro. A Teoria inserida na Doutrina Espírita é muito mais ampla e merece todo nosso esforço para a compreendermos cada vez melhor. Os estudos da fisiologia cerebral de hoje estão mesmo produzindo deslumbramentos que a mídia tem pressa em divulgar. Entretanto, faltam ao neurocientista, conhecimentos fundamentais como a existência do perispírito e das experiências em múltiplas vidas, que faz da cada um de nós um mosaico de desigualdades.

TE - Como surgiu a idéia de criar o Instituto do cérebro e quais os objetivos do instituto?

NOF - Criamos o Instituto do Cérebro em 1987 a partir de um Congresso realizado por professores de física, matemática e química sobre “Mente e Matéria”. Fui convidado para falar sobre “cérebro e mente”, ficando a partir daí cada vez mais comprometido com o estudo desse tema. Com um grupo de médicos e psicólogas criamos o Instituto do Cérebro. Nossa intenção era poder trazer para a prática médica um conceito mais abrangente do ser humano com a visão holística que se iniciava na época. O que fizemos de novo, foi incluir a existência do espírito como sinônimo de mente, para podermos estudá-la como uma entidade organizada e possível de ser reconhecida por nós.

TE - Que resultados o senhor vem obtendo no Instituto aliando a medicina e o conhecimento espiritual?

NOF - Posso lhes garantir que fomos pioneiros nessa abordagem e hoje colhemos os frutos saudáveis que essa postura nos permitiu. Já podemos perceber nos dias de hoje, uma procura espontânea por parte dos próprios pacientes, pela interpretação transcendente que o espiritismo pode oferecer para as causas do seu sofrimento. Por outro lado, já destaquei o quanto as Universidades americanas estão empenhadas na inclusão da espiritualidade na terapia. Devemos lembrar, entretanto, que temos, no espiritismo, uma interpretação muito mais esclarecedora do que qualquer outro ambiente científico ou religioso possa propor. Cabe-nos a obrigação de trabalharmos com afinco para pô-la em prática.

TE - Em que estágio se encontra a neurologia em relação ao estudo de mediunidade?

NOF - No ambiente acadêmico são escassos os estudos sobre a mediunidade. Fora do meio espírita esse tema não é bem visto como objeto de estudo ou pesquisa. Cabe a nós, médicos espíritas conduzirmos os esforços para produzir trabalhos que preencham os pré-requisito que a Ciência de hoje exige para aceitar a publicação das pesquisas. Há anos venho divulgando meus estudos sobre a neurofisiologia da mediunidade e sei que nenhuma revista médica da ciência oficial aceitaria meus artigos para publicação. Estou, no momento, com um artigo, que escrevi sobre o “corpo mental”, já aprovado para publicação em uma revista médica importante.Tive que dar a ele um enfoque tradicional, evitando qualquer palavra que denotasse vinculação direta com a Doutrina espírita. Mas, o artigo tem claros propósitos espiritualistas, quem souber ler vai perceber isso em suas entrelinhas.

TE - Qual sua posição com relação ao uso das células-tronco embrionárias? O senhor considera aborto o seu uso?

NOF - Para aquelas células que repousam nos frízer dos laboratórios de fertilização há anos, não me agrada a idéia de que ali a espiritualidade permitiria estarem confinados uma legião de espíritos que por alguma razão não teriam merecido reencarnarem.
Minha percepção de renascimento me faz crer que esse processo não é exclusivamente biológico mas, implica em um contexto de reencontro espiritual mais complexo.
Faço esses comentários na condição de aprendiz que ainda não conhece as respostas a questões de tamanha complexidade. Sei que no meio espírita as opiniões ainda são discordante e não quero contribuir para trazer mais confusão às mentes dos amigos que possam nos ler nessa entrevista. Penso que a Espiritualidade está deixando em nossas mãos um dilema de tamanha gravidade, para aprendermos a buscar com mais empenho as portas do mundo espiritual que existe ao nosso redor. Quem sabe se essa dúvida martirizante não nos fará pensar melhor o significado e o valor da vida de cada um de nós.

TE - Falando em aborto, muitas pessoas defendem o aborto dos fetos anencéfalos. Qual sua posição à respeito?

NOF - Até em animais de experimentação nos quais foi retirado todo o cérebro, podemos perceber que persiste neles toda a atividade automática. Um cão nessas condições pode caminhar, coçar seu pelo, alimentar-se normalmente quando estimulado. Não há porque interpretar o anencéfalo como desprovido de vida espiritual. Os núcleos diencefálicos e o tronco cerebral que persistem no anencéfalo, têm ligação com o “chacra” coronário estabelecendo um vínculo espiritual significativo. Reconheço o peso psicológico que essa situação traz à mulher nessa gestação atípica mas, é menos grave que a angústia da consciência que nos cobrará com a dúvida de ter assassinado um inocente.

TE - Como o senhor vê o futuro da relação medicina e espiritualidade?

NOF - Em diversos centros universitários o caminho já está aberto. Aguardamos progressos importantes nessa associação. Precisamos, porém, insistir que o paradigma espírita tem muito mais a ensinar à Medicina do que qualquer outra posição religiosa ou não e o médico espírita não deve abrir mão do que já conhece. Devemos tomar muito cuidado para, à pretexto de aceitar e divulgar a espiritualidade no meio universitário, não sermos coniventes com distorções doutrinárias inaceitáveis. Adiar o compromisso com a pureza doutrinária já foi motivo de muito sofrimento na história do nosso passado espiritual.

TE - O que mudou na sua vida após o Espiritismo?

NOF - Já disse no princípio da entrevista que, minha estória de vida dentro do espiritismo teve início aos sete anos de idade. Foi dentro da doutrina que caminhei por toda vida.

TE - Quais seus projetos atuais?

NOF - Mantermos em atividade constante todo projeto que desenvolvemos há 17 anos no Instituto do Cérebro.
TE - Pediríamos para o senhor deixar uma mensagem para os nossos leitores.
NOF - A melhor mensagem é a mensagem espírita. O fato de a termos a disposição para o estudo e a prática que ela sugere, nos põe na posição de abençoados pela misericórdia divina

Neurologia da Atenção

“A atenção não é propriedade de uma única área do cérebro nem do cérebro todo”.

A atenção como um todo parece envolver praticamente o cérebro inteiro, mas, na verdade, os pesquisadores conseguiram determinar 3 “blocos” distintos de atividade – chamados de “subfunções da atenção”. Cada um deles envolve a associação de várias áreas cerebrais, utilizam um neurotransmissor próprio que modula suas mudanças (direcionamento) e provoca disfunções clínicas específicas daquela função.
São eles:
O Estado de alerta, a Orientação e a Atenção executiva.
Vou à estação rodoviária receber um parente. Fico alerta acompanhando a chegada de vários ônibus. Preciso me orientar nas plataformas de desembarque e selecionar corretamente a procedência de todos os ônibus que estacionam. Tenho de manter a atenção “ligada” às feições dos passageiros que chegam até que encontre, no meio da multidão, o parente esperado. Não posso confundi-lo com um estranho para não “pagar mico”.

1 – O ESTADO DE ALERTA:

É a “preparação” para atender a um evento que se aproxima e inclui, também, o processo de se chegar a esse estado de preparação.
O “estado de alerta” envolve as seguintes áreas cerebrais: junção dos lobos parietal e temporal, região parietal superior, o campo frontal dos olhos e os colículos superiores relacionados com as vias ópticas.
O neurotransmissor que modula o estado de alerta é a ACETILCOLINA.
Os dois quadros clínicos principais ligados ao comprometimento do estado de alerta, são: as mudanças atencionais que ocorrem no envelhecimento (o idoso tende a ficar desatento) e os distúrbios de atenção do TDAH.

2 – A ORIENTAÇAO:

É definida pela “seleção de estímulos” a serem atendidas. Faço minha escolha para olhar de que direção veio essa luz ou de que lado eu escutei esse barulho.
As áreas do cérebro ligadas a essa função se referem ao Locus Coeruleus, o córtex frontal direito e o córtex parietal.
O neurotransmissor que modula a orientação é a NOREPINEFRINA
A disfunção clínica ligada ao sistema de orientação da atenção é o AUTISMO. Esse paciente não é capaz de mudar o foco de sua atenção para um estímulo novo produzido ao seu redor. Ele não atende a um chamado, não “escuta” uma sineta do lado, não olha para o coleguinha que se aproxima, não toca no brinquedo que oferecemos. Sua atenção permanece prisioneira do seu mundo interno.

3 – A ATENÇAO EXECUTIVA

Compreende os processos de monitoramento (acompanhar propositadamente) e de resolução de conflitos que surgem nos processos internos. Esses processos, logicamente, incluem os pensamentos, os sentimentos e as reações internas que os estímulos provocam. Nesse ponto de mais alta complexidade mental, vou elaborar minhas escolhas, vou identificar as ameaças, vou provocar minhas emoções. É como o encontro de um velho amigo, a descoberta da rua que procurava, a decisão de comprar aquela camisa que vou usar no casamento, o arrepio que a taturana me provocou quando fui apanhar o maracujá no quintal.
As áreas do cérebro envolvidas nessa etapa final e mais elaborada dos processos atencionais são: A porção anterior do giro Cíngulo, o córtex pré-frontal e os gânglios da base.
O neurotransmissor mais ligado à atenção executiva é a DOPAMINA
As manifestações clínicas que ocorrem associadas à disfunção do sistema de atenção executiva são: a doença de ALZHEIMER, a ESQUIZOFRENIA e os distúrbios de personalidade BODERLINE.

Neurovisão

A visão é um exercício cerebral extraordinário. Do olho até ao cérebro são quatro estações de embarque - o nervo óptico, os colículos superiores, o tálamo e o córtex occipital. Para codificar a visão de um objeto e todo seu significado, mobilizamos 25 % de todo o córtex cerebral – do occipital ao frontal. Colocando tudo para funcionar on line.
Passa um objeto sobre nossas cabeças. E o que é que vejo?

Registro a cor, a forma, onde está e o que é. Seria um pássaro?
Tamanho – é muito grande para ser um pássaro.
Movimento - passou muito depressa, mal deu para ver os detalhes.
Distância – parece ter ido perto, logo acima nessa árvore
Textura – acho que é um bicho peludo
Sombreamento – tive a impressão que era escuro

Como faço para pegá-lo? – posso estender a mão para pegá-lo, mas, alguma coisa me mete medo, talvez porque, ainda não sei o que é

Fluxo óptico (outros objetos que estão vindo em minha direção) – com o vento a folhagem começa a me incomodar
Velocidade do deslocamento – sei que passou correndo e depois parou em algum galho da árvore
Em quanto tempo ele me alcança? – se não me esquivasse eu seria atingido em minutos
Em quanto tempo chego lá? – num instante

Como faço para evitá-lo? – com pequeno deslocamento pude desviar-me sem trombar com ele
Quando vou em frente tem objetos que se afastam de mim e outros se aproximam (fluxo óptico) – meu quintal está cheio de outros animais.

Estou vendo agora com nitidez, era uma das gatinhas pretas que minha esposa cria no quintal
Imaginem um passeio pelo shopping.

Vou ver as lojas, as vitrines, as roupas, os celulares, os computadores e a multidão que cruza comigo enquanto procuro o livro que quero encontrar.
Estou registrando o fluxo óptico evitando trombadas com quem vem em minha direção.
É fundamental ter noção da velocidade com que eles se aproximam de mim.
Calculo as distâncias dos objetos que tiro das prateleiras para conhecer melhor.
Admiro as cores, a textura e o “design” dos celulares.
Vejo os detalhes das imagens na tela de um GPS e tento decifrar seus códigos.
Preciso conhecer esse aparelhinho simpático – meu neto vem em meu socorro e me ensina que é um Ipod.
Vivendo e aprendendo, ou melhor, vendo e aprendendo.


A atenção – como ela funciona?

Habituação – supressão inconsciente do barulho em volta de mim.
O ambiente nos estimula constantemente com um bombardeio de informações. Estou escrevendo, escuto ao longe a televisão ligada, um ruído leve do motor da geladeira, uma brisa fria do ar condicionado, um ruído monótono de um grilinho no quintal. A habituação nos salva dessa enorme demanda de sinais. E ela o faz “de graça”, sem qualquer esforço adicional, inconscientemente “apaguei” a voz do noticiário da Tv para concentrar minha atenção no computador.

A atenção usando a consciência

Vamos analisar 4 funções conscientes da atenção: a detecção de sinais, a atenção seletiva, a atenção dividida e a busca.

1 – A Detecção de sinais

Estou esperando o técnico da televisão – de repente toca a campanhinha, pelo interfone confirmo que ele chegou.
Mesmo digitando no computador, eu estava VIGILANTE, esperando o sinal da chegada do técnico. Mesmo cansado a gente ainda consegue manter-se vigilante, especialmente, quando se espera por um sinal de alarme ou a entrada do programa noturno que aguardamos.

A vigilância para detectar sinais é importantíssima para determinados profissionais – o salva-vidas que vigia os banhistas, o controlador de tráfego aéreo que acompanha o radar, o médico da UTI que não desgruda o olhar dos monitores, o investigador de polícia que procura pistas do crime, o bombeiro que está constantemente atento a sirene de alarme.
Na detecção dos sinais podem ocorrer acertos, falhas e alarmes falsos. Uma radiografia com uma mancha no pulmão já alarmou muito médico desavisado.

2 – A atenção seletiva

Conscientemente fazemos escolhas de onde focar nossa atenção. Numa reunião festiva são muitos falando, mas, preciso prestar atenção ao que diz minha esposa aqui do meu lado. Numa aula barulhenta tenho de escutar o professor falando. Num filme legendado tenho de acompanhar o texto para não perder os diálogos. Estou lendo um livro e não posso me distrair com a música do rádio da nossa empregada.

O fato de concentrarmos a atenção seletivamente em determinados estímulos de informação, melhora nossa capacidade de manipular esses estímulos, utilizando-os em “outros processos cognitivos”. Ouvindo com atenção compreenderemos melhor o interlocutor, mais atentos aos cálculos resolveremos melhor nosso problema de matemática – ou seja – estamos utilizando melhor a compreensão verbal, o planejamento e a tomada de decisões.

3 – A Atenção dividida

Os recursos da atenção podem ser distribuídos prudentemente conforme as necessidades. É o caso de precisarmos realizar várias tarefas ao mesmo tempo. Essa competência tem ligação direta com a sobrevivência. Basta ver entre os animais a mãe que amamenta os filhotes – está atenta a eles, os acomoda, distribui comida na boca de cada um e ao mesmo tempo está vigilante a quem se aproxima trazendo insegurança aos filhotes.

Por isso, esse talento exacerbado das nossas mulheres que prestam atenção em tudo ao seu redor. Não tem festa que elas não anotaram os vestidos ou enfeites das amigas. Na cozinha elas se agigantam – fazem as misturas, dirigem a empregada, controlam os filhos e reclama do marido.

O motorista de taxi circula as pressas pelas ruas e, ao mesmo tempo, conversa, critica o trânsito, reclama dos ônibus em excesso na cidade, para no sinal vermelho e responde ao chamado do rádio sem se atrapalhar.

4 – A Busca

A vigilância é a espera passiva de um sinal que está por vir. A busca é essencialmente uma postura ativa. Estamos procurando alguma coisa de modo persistente e competente. A busca se refere a uma “varredura” pelo ambiente. Estamos procurando o vinho chileno nas prateleiras do supermercado, o bicarbonato na dispensa, uma tradução no dicionário ou onde está minha filha na saída da escola.

Na busca, enfrentamos freqüentemente a distração e o alarme falso. Os vendedores espertos são hábeis em nos enganar com as distrações e propaganda enganosa (uma informação ambígua).
Detectando sinais específicos somos impelidos a realizar buscas minuciosas. É o caso de se detectar fumaça e sairmos para procurar onde tem fogo.

Idosos estão sempre buscando onde deixaram os óculos, os chinelos ou o jornal. Os adolescentes reviram a casa atrás do celular que nunca sabem onde perderam e as crianças “procuram” na geladeira o que mais tem para comer em casa.
Estados emocionais afetam intensamente nossa tarefa de vigilância e busca. Isso pode ser um prejuízo na vida moderna – seu nervosismo não lhe deixa ver coisas na frente do nariz – acaba não comprando o queijo da fazenda que você tanto queria. Entretanto, os estados emocionais trouxeram uma vantagem adaptativa na vida ancestral do ser humano caçador-coletor. Sem um pouco de agitação, a “comida” passa correndo por nós e amargamos um jejum involuntário.

“Atenção é a tomada de posse pela mente…...Implica em se afastar de algumas coisas para lidar efetivamente com outras” (William James)

Qual é o papel da atenção?

1 – Monitorar as interações do indivíduo com o ambiente (preste atenção, o professor está falando com você)

2 – Estabelecer uma relação com o passado (lembro-me que já vi esse relógio) e com o presente (ele agora está muito atrasado) para dar um sentido de continuidade da experiência (fui eu mesmo quem o guardei aqui) – essa continuidade, também, serve de base para minha identidade pessoal.

3 – A atenção ajuda no controle e no planejamento das ações futuras, que se processam com base naquele monitoramento do ambiente e das ligações de minhas lembranças do passado, integradas com minhas sensações no presente momento (o tema dessa aula é extremamente importante, já li alguma coisa a respeito, mas, preciso prestar muita atenção porque esse assunto vai cair na prova final).

A atenção, a memória e principalmente a consciência, formam um conjunto de funções parcialmente sobrepostas – algumas vezes elas até parecem ser a mesma coisa.