Tendência da ciência: unificar-se à religião e comprovar a existência de Deus e do espírito - solange Galeano
Tendência da ciência: unificar-se à religião e comprovar a existência de Deus e do espírito
O afastamento entre ciência e religião ocorreu no final da idade média, com o movimento histórico chamado Renascimento e seu ideal racionalista: o Iluminismo. O Iluminismo foi um movimento generalizado - ou seja, um movimento filosófico, político, social, econômico e cultural - que defendia o uso da razão como o melhor caminho para se alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação.
Como sempre acontece, os movimentos de reação ao vigente, através dos tempos, distorcem e manipulam a história para justificar seus objetivos e idéias.
Na antiguidade clássica, embora a Grécia fosse o berço do racionalismo, dentre seus pensadores havia alguns vinculados às correntes profundamente místicas, a exemplo dos órficos, pitagóricos, neoplatônicos, além das instituições de mistérios de Dionísio, Elêusis e Samotrácia. Havia, além disso, um grande fascínio dos gregos pelos mistérios egípcios. Essas culturas da antiguidade tinham uma longa tradição de sacerdotes médicos e cientistas, não havendo nenhuma separação entre ciência e religião.
Entretanto, foi na Grécia que surgiram as primeiras tentativas de se criar um saber puramente científico, independente dos mitos e da religião, e que gerou uma longa série de pensadores racionalistas independentes.
Com o Cristianismo, aprofundou-se o buraco entre ciência e religião, muito embora se tenha registrado a existência de religiosos dedicados à ciência como Roger Bacon e Alberto Magno.
A inquisição foi o ponto extremo e patológico atingido pela intolerância e pela perseguição religiosa. Milhares de pessoas foram sacrificadas na fogueira por heresia ou por simples suspeita de heresia. A religiosidade medieval chegou a tais pontos de afirmação de fé e cerceamento da liberdade de pensamento e de escolha, que causou revolta e uma busca pelo extremo oposto: a negação de todos os valores da fé e da espiritualidade, buscando nos filósofos e artistas clássicos greco-romanos a inspiração para novas formas de pensamento e de expressão. O homem tornou-se, então, o centro de referência do mundo, retirando Deus de seu trono (teocentrismo), colocando em seu lugar a razão.
Todo esse ambiente de fanatismo e intolerância que proliferou na Idade Média foi o caldo de cultura para a reação oposta em busca da liberdade de pensamento e de expressão, tornando inevitável a separação entre a ciência e a filosofia de um lado, e a religião do outro, o que efetivamente ocorreu a partir do século XVI. Essa separação foi uma das maiores causas de alienação e perplexidade de nossa época.
Já no século XIX, todas as pessoas cultas tendiam para o materialismo, enquanto as almas simples e emocionais tendiam para a religiosidade extrema e irrefletida. O advento do Espiritismo – inaugurado nesse século - da teosofia, da Ciência Cristã e de outros movimentos místico-racionalistas foi uma primeira tentativa de unir ciência e religião em um conhecimento unificado.
Como se pode observar, a primeira tentativa de unificação partiu do terreno das religiões. Não exatamente das religiões oficiais, mas das religiões alternativas ou “filosofias” de vida, nas quais existia maior liberdade de pensamento e de expressão. As religiões oficiais haviam-se tornado poderosas, inflexíveis e autoritárias, não mais servindo como veículo de expressão adequada para as “verdades eternas”. A renovação se fazia necessária.
Do lado da ciência, a tentativa de unificação veio por caminhos inesperados. Freud desenvolveu uma teoria sobre o inconsciente humano, em bases totalmente materialistas. Seu principal discípulo, Jung, diferente do mestre, elaborou uma teoria complementar da psique humana, baseada em arquétipos, que chega muito próximo do terreno místico. Jung era um grande estudioso de mandalas, do I Ching e da Alquimia, tendo terminado sua vida como um ocultista em seu casarão na Suíça ao qual chamava de “o castelo”.
Entre os grandes cientistas do século XX, Einstein e Niels Bohr tinham marcantes tendências místicas. Thomas Edson , o maior inventor de todos os tempos, era teosofista registrado. Einstein, por sua vez, chegou a afirmar que uma pequena ciência afasta-se de Deus, mas uma grande ciência conduz-nos de volta a Deus.
No final do século XX, o físico, mundialmente famoso, Fritjoff Capra publicou duas obras magistrais, O Tao da Física e O Ponto de Mutação. Essas obras colocaram definitivamente a nova física(física quântica) em alinhamento com a espiritualidade. Muitos físicos, inspirados nessas obras, tornaram-se budistas, taoístas ou adeptos dos misticismos de outras correntes.
As várias descobertas, feitas pela neurociência, trouxeram consigo uma corrente que encontra indícios da existência do espírito no cérebro, trazendo a afirmação de que ciência e religião podem caminhar juntas. Os estudiosos da área estão próximos da conclusão de que o cérebro humano é um computador. Porém, nenhum computador produz o próprio programa e mesmo que faça, precisamos instalar um programa para fazê-lo funcionar e a alma ou espírito do computador vem do software que nele é instalado. O cérebro é a mesma coisa, ele não tem capacidade de autogestão e para que funcione, é necessária à introdução de uma força que seria o espírito.
No final do século XX e início do século XXI, surgiram outras teorias e metáforas para a interpretação da realidade, inspiradas em modelos holográficos e monistas, como a Hipótese Gaia, a Teoria do Campo Unificado e a Teoria das SuperCordas. A mais recente teoria- “A Teologia da Ciência” - é de autoria de um pesquisador polonês. Michael Heller, um dos mais conceituados cientistas no campo da cosmologia e, igualmente, um dos mais renomados teólogos de seu país, foi o pioneiro na formulação de uma nova teoria que une Deus e ciência. Em seus trabalhos, o estudioso abordou a questão da origem do universo sobre aspectos avançados da teoria geral da relatividade, de mecânica quântica e de geometria não-comutativa. Valeu-se também de algumas ferramentas fundamentais tendo como base principal a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein. Ele mergulhou nos mistérios das condições cósmicas, como a ausência de gravidade que interfere nas leis da física, e da física quântica.
Todas essas teorias são tentativas de estabelecer uma ponte entre religião e ciência, criando uma nova era para a humanidade, baseada no princípio de que deve haver um conhecimento unificado, em correspondência à unidade da vida.
Não se sabe o que será a nova religião da humanidade, mas pode-se afirmar, com certeza absoluta, que eliminará o fosso entre religião e ciência, visto que todos os trabalhos precursores caminham nessa direção.